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SUPLEMENTAÇÃO ESPORTIVA: QUANDO HÁ NECESSIDADE?

31.jan.2013

Suplementação Esportiva: quando há necessidade?

*Cristiano Lino

O tema “Suplementação Esportiva” está ganhando cada vez mais espaço no mundo fitness e tem se tornado objeto de desejo por parte de atletas, daqueles que cultivam o corpo e também daqueles que estão com o peso um pouco (ou às vezes muito) acima do recomendado. Devemos abrir um parêntese para mencionar que muitas das vezes o “recomendado” não é o suficiente para se enquadrar dentro de parâmetros físicos e fisiológicos inerentes à manutenção da saúde e bem estar, mas o necessário para se comparar com o padrão de beleza estipulado pela mídia. Somos constantemente bombardeados pela mídia para atingirmos projeções corporais inatingíveis naturalmente. As pessoas sentem necessidade de serem parecidas com os famosos. Há alguns anos o Brasil que frequenta a parte de baixo a lista de IDH lidera a lista de consumidores de apetite. O número de cirurgias plásticas estéticas cresce exponencialmente, enquanto o número de novas descobertas científicas, novas patentes, prêmios Nobel, venda de livros não aumenta na mesma proporção. Podemos dizer que fazemos parte de uma sociedade muito mais preocupada com o externo do que com a essência. É nesse contexto que entram os suplementos esportivos. Eles, na maioria das vezes, prometem agilizar o processo e fazer com que os objetivos sejam atingidos precocemente. Ficar forte ou magro amanhã é o sonho de todo mundo.

Segundo Aurélio suplementar significa adicionar para ampliar. Ou seja, estamos então falando de algo que deve ser ingerido quando há uma necessidade fisiológica de acrescentar algum nutriente que não seja possível via alimentação tradicional. Por exemplo, os anêmicos devem suplementar ferro, os osteoporóticos devem suplementar cálcio, as gestantes normalmente fazem utilização adicional de ácido fólico, os vegetarianos de alguns aminoácidos essenciais e alguns atletas ou praticantes de exercícios físicos, em alguns casos, devem fazer a suplementação de carboidratos, proteínas e outros compostos.

O que deve ficar claro a toda comunidade que se interessa por esse tema é que a utilização de algum suplemento esportivo não deve ser uma condição sine qua non a todos aqueles que se matriculam em uma academia de ginástica ou aqueles que se engajam em algum projeto de corrida de rua. O suplemento esportivo não deve fazer parte de um pacote (academia + suplemento). A necessidade de suplementação esportiva deve ser analisada por um profissional habilitado para tal tarefa para se evitar, inicialmente, danos à saúde, efeitos colaterais, bem como, desperdício de dinheiro. 

Grande parte dos frequentadores de academias de ginástica e praticantes de musculação treina menos de 1 hora por dia, e na maioria das vezes, em intensidades inferiores àquelas necessárias para uma ótima adaptação. Isso implica em dizer que, salvo algumas exceções, uma simples alteração dietética é suficiente para suprir a nova demanda de gasto energético. Um exemplo clássico é que em 1 hora de musculação, normalmente treina-se 30 minutos e descansa-se 30 minutos, procedimento natural e necessário para o bom rendimento. Uma sessão de treinamento semelhante à descrita acarreta em um gasto energético aproximado de 200 a 300 kcal. Se atribuirmos 80% deste gasto calórico aos carboidratos, podemos chegar a valores de 160 a 240 kcal provenientes do metabolismo dos açucares. Cada 1 grama de carboidrato é capaz de gerar 4 kcal de energia, o que nos remete a valores de 40 a 60g de energia derivada de carboidratos durante uma sessão de treinamento de musculação. Sendo assim, a ingestão de 1 banana (~20g de carboidrato) com 1 colher de sopa de mel (~18g de carboidratos) após este treinamento já é praticamente suficiente para repor o carboidrato utilizado. Pode-se questionar que é mais prático carregar um suplemento do que uma banana e mel. Se a discussão for para este aspecto o argumento a ser debatido é a praticidade e não a eficácia. E a proteína que “deve” ser ingerida após o treinamento? Há dados científicos publicados em revistas de renome que mostram que a ingestão de proteínas após o treinamento de força (musculação em intensidade alta) potencializa o aumento da massa muscular. Mais uma vez, dependendo da circunstância, uma manipulação nos alimentos ingeridos pode ser suficiente para suprir a demanda proteica. 

Uma outra classe de suplementação esportiva que vem sendo demasiadamente utilizada são as bebidas esportivas ou isotônicos. Essas bebidas que foram criadas com o intuito de restabelecer os estoques de carboidratos e eletrólitos (sódio, potássio, cloreto) utilizados durante o exercício. Há vários relatos de indivíduos que sentem náuseas e ânsia de vômito quando fazem a ingestão destas bebidas durante o exercício. Como elas são isotônicas, ou seja, ~6% de carboidratos, elas não proporcionam uma absorção muito rápida como acontece como a água pura ou soluções menos concentradas. Assim a bebida fica retida no estômago e como o fluxo de sangue está concentrado nos músculos, a absorção se torna bastante comprometida. Além disso, a alta concentração de sódio (~200mg / 500ml) contida pode ser prejudicial para a saúde. A Organização Mundial de Saúde recomenda a ingestão diária máxima de 2g de sódio e os brasileiros ingerem aproximadamente 4,5g diariamente. A alta ingestão de sódio é um fator de risco para hipertensão arterial, doença esta que tem aumentado exponencialmente em todo mundo. As bebidas esportivas devem ser ingeridas com cautela e exclusivamente para praticantes de exercícios físicos.

A cerca de 15 a 20 anos, os suplementos também passaram a fazer parte do cotidiano daqueles que estão acima do peso. Essas substâncias, normalmente a base de efedrina, cafeína, anfetaminas – chamados termogênicos – apresentam uma via de ação voltada para aumentar a atividade do sistema nervoso central e potencializar a degradação de gorduras. Até ai tudo bem! Contudo, ainda não temos condições de direcionar o efeito de algum fármaco administrado oralmente ou mesmo de forma intramuscular ou endovenosa para um local específico. Quero dizer que o composto vai agir no tecido adiposo, mas também em todos os outros lugares onde houver receptores. Um destes locais é o coração e um dos possíveis efeitos colaterais é a taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos) e, consequentemente, da pressão arterial. A perda de sono também é muito comum, bem como a hiperglicemia e o aumento do risco de diabetes tipo 2.

A grande questão é saber quem tem a necessidade de utilizar um suplemento esportivo e qual é seu real objetivo. Melhorar a estética ou mesmo melhorar a saúde não acontece como uma mágica. Há a necessidade de treinar muito bem, descansar de forma adequada e alimentar corretamente. Os resultados não acontecem de forma repentina. Convém sempre ressaltar que antes da estética devemos nos preocupar primordialmente com a saúde.

 

*Cristiano Lino

Currículo Lattes

Doutorado em andamento em Ciências do Esporte (UFMG)

Mestrado em Ciências do Esporte (UFMG)

Especialização em Fisiologia do Exercício (UVA/RJ)

Graduação em Educação Física (UFU)

Experiência na área de Educação Física, atuando principalmente nas seguintes sub-áreas: fisiologia do exercício, treinamento esportivo, nutrição esportiva e metodologia da pesquisa.